Cinema: o impacto da pandemia e o futuro dessa indústria.

Cinema seat with popcorn and 3d glasses

O atual contexto:

Após a pandemia mundial de Covid-19, muitos cinemas fecharam, datas de lançamento foram adiadas, festivais foram cancelados e a produção cinematográfica paralisou. Esses fatores trouxeram à tona o questionamento de como essa indústria, tão importante para a cultura e a economia, irá se recuperar e sair dessa crise.Anterior a essa situação, a indústria do cinema nacional encerrou o ano de 2019 com um total de 3.477 salas de exibição em funcionamento, segundo o informe anual da ANCINE (Agência Nacional do Cinema), ultrapassando o recorde de 3.347 salas em 2018 e distanciando-se ainda mais do recorde histórico anterior de 3.276 salas em 1975.

Entretanto, o Brasil já tem um parque exibidor insuficiente, com uma das menores taxas de habitantes por sala da América Latina, como afirma André Sturm (2020), curador do Cine Belas Arte e programador da distribuidora Pandora Filmes. Analisando o cenário atual, todas as salas de cinema tradicional do país estão fechadas desde o final de março devido à pandemia do novo Coronavírus. Com isso, pela primeira vez na história, o país passou a registrar faturamento zero de bilheteria em cinemas. O que é um grande problema, porque assim como em qualquer empresa, as exibidoras precisam arcar mesmo sem receita com despesas como folha de pagamento, aluguel, impostos e direitos autorais. A situação gera receio nos empresários do setor a respeito do fechamento permanente das salas em todo o país.

As consequências sociais:

Quanto às consequências sociais, a distribuição geográfica de salas de cinema no país, em sua maioria concentrada em grandes centros urbanos, pode ficar ainda mais desigual depois da pandemia. Provocando um aumento da quantidade de municípios que não dispõem de nenhuma sala de cinema, uma vez que a situação pode regredir por causa do fechamento de salas daqueles que já possuem. Sturm ainda afirma que a crise dos exibidores, além de ruim para os filmes e distribuidores, é calamitosa para a sociedade que deixa de ter a chance de compartilhar a experiência cultural proporcionada pelo cinema.

Além do papel de acesso à cultura pela população, essa indústria gera uma quantidade significativa de empregos à economia. Contudo, seus principais participantes são igualmente vulneráveis a situação da pandemia. A exemplo disso, temos Tom Hanks e Rita Wilson que anunciaram positivo para o Covid-19. Desde então, vários outros atores revelaram seus diagnósticos: o britânico Idris Elba, e a estrela norueguesa de Game of Thrones, Kristofer Hivju. E isso não se limita apenas a atores, mas também outros profissionais estão vulneráveis a situação, como: diretores, figurinistas, cenógrafos, roteiristas, editores e técnicos de som e imagem.

As consequências econômicas:

No que diz respeito às consequências econômicas dessa indústria, a rede americana de cinemas CMX, com sede em Miami decretou falência. Para a indústria cinematográfica, a crise já significou uma perda de sete bilhões de dólares em bilheterias, um número que já subiu para 17 bilhões de dólares — só até o final de maio. Enquanto isso, o sindicato da indústria de entretenimento dos EUA, a Aliança Internacional de Empregados Teatrais (IATSE) relata, só no primeiro semestre de 2020, 120.000 trabalhadores foram demitidos em Hollywood como resultado da suspensão das atividades.

O impacto imediato foi catastrófico, mas a preocupação também está crescendo em relação ao futuro dos filmes. À medida que o distanciamento social e o isolamento se tornam uma norma, será que um negócio construído em torno de uma experiência comunitária consegue sobreviver? Em resposta a isso, a Netflix superou a Disney em valor de mercado. Enquanto as ações desta despencaram 40%, as da plataforma de streaming cresceram 9%, atingindo US$ 158 bilhões no mesmo tempo em que a Disney US$154,8 bilhões. Desse modo, uma solução paliativa veio à tona, as distribuidoras estão realizando sessões online, por streaming, cobrando dos espectadores um valor mais baixo do que o de um ingresso normal para continuar exibindo filmes e gerar alguma receita.

Medidas tomadas:

Com todas essas problemáticas econômicas e sociais, o que vem sendo feito? A ANCINE e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) preparam uma linha emergencial de crédito para socorrer a indústria do cinema como um todo, que permite arcar com os custos da folha de pagamento das empresas exibidoras por um ano. Quanto aos recursos, por conta de problemas organizacionais, o futuro ainda é muito incerto.

Também há estratégias criadas pelas próprias empresas exibidoras. A rede internacional Cinemark, que detém 640 salas no Brasil, está vendendo pipoca e outros produtos da bombonière pelo seu e-commerce, além de disponibilizá-los por delivery em uma parceria firmada com o iFood (inicialmente em São Paulo). Ainda em meados de março, a empresa propôs aos funcionários um Plano de Demissão Voluntária ou um programa de qualificação online, pelo qual passariam a receber 80% de sua remuneração líquida. Já o Espaço Itaú de Cinema, que possui um total de 61 salas em seis capitais brasileiras, tenta viabilizar a venda antecipada de ingressos que poderão ser usados depois da pandemia.

Há também pequenos exibidores, de cidades como Manaus e Belo Horizonte que, segundo Sturm, têm procurado a distribuidora Pandora Filmes para realizar sessões online, por streaming, como já mencionado. Esse tipo de parceria entre distribuidoras e cinemas independentes também tem sido posta em prática em outros países, como nos EUA.

A retomada:

Mesmo após uma futura reabertura, a expectativa é de que as salas continuam enfrentando dificuldades durante alguns meses, já que o público pode estar relutante com relação a voltar a frequentar esse tipo de espaço, por enxergá-lo como um potencial foco de contágio do vírus. A exemplo disso, na China, um cinema reaberto em março com 22 sessões a preços promocionais não conseguiu vender nenhum ingresso. Tendo sido considerado como uma abertura precipitada, no qual logo mais o governo determinou um novo fechamento.

Consequentemente, após meses de quarentena, o público pode precisar de um tempo a fim de recuperar a confiança para voltar aos cinemas. Entretanto, em contrapartida, os participantes e produtores de eventos online se mostraram otimistas, uma vez que há a possibilidade de a pandemia levar a indústria cinematográfica a um futuro mais digital acelerando uma transição já em andamento na última década. Portanto, a cinema vai durar, é claro, mas em qual formato? Ninguém ainda pode dizer.

REFERÊNCIAS

BATTAGLIA, Rafael. Como o coronavírus pode mudar, para sempre, a indústria do cinema. Super Interessante, 2020. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/como-o-coronavirus-pode-mudar-para-sempre-a-industria-do-cinema/>. Acesso em: 18/06/2020.

CARVALHO, Beatriz. Conheça 6 profissões do cinema e da televisão. Unileste, 2020. Disponível em: <https://vestibular.unileste.edu.br/blog/profissoes-do-cinema-e-televisao>. Acesso em: 18/06/2020.

LODI, Jessie. Qual o Futuro do Cinema Pós Pandemia?. Acontecendo Aqui, 2020. Disponível em: <https://acontecendoaqui.com.br/colunas/coluna-cinema-qual-o-futuro-do-cinema-pos-pandemia>. Acesso em: 18/06/2020.

LIMA, Juliana. O futuro das salas de cinema no Brasil pós-pandemia. Nexo, 2020. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/04/22/O-futuro-das-salas-de-cinema-no-Brasil-p%C3%B3s-pandemia>. Acesso em: 18/06/2020.

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO FEITA EM:  30.07.2020.

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