Fandom: o impacto dos fãs na indústria criativa

Texto 255 - Samuel Moreira [ARTE SITE]

A presença de um grupo de fãs sempre acompanhou a ordem do sucesso midiático, seja do astro da música, da saga de livros famosos e do filme no cinema. Marginalizados, por muito tempo, pela sociedade em geral, esse tipo de organização social foi ganhando, aos poucos, o reconhecimento, de acordo com a importância do papel que costumam desempenhar no crescimento de um produto ou serviço. O termo fã se origina do latim fanaticus e parte do significado de “devoto, pertencente a um templo”. Dentro desse conceito, surge um segundo conceito ainda mais recente, o chamado fandom.

O fandom é o espaço social que sedia e propicia intensivos diálogos entre os fãs. Para os admiradores da cantora norte-americana Lady Gaga, o fandom pode ser denominado como Little Monsters. Já entre os fanáticos pela febre k-pop do grupo coreano BTS, identificam-se os Army. Dentre os apaixonados pela saga Harry Potter, nascem os Potterhead, entre muitos outros exemplos oriundos da cultura pop atual. Segundo os estudos de Costa e Leão (2017), que analisaram especificamente o comportamento do grupo Potterhead, o fandom se caracteriza como uma vida organizada pautada por determinadas normas e práticas que traduzem a legitimidade dos seus integrantes. Enxergá-los como organizações sociais, dotadas de valores e regras, evidencia as suas capacidades de se posicionarem como membros ativos e participativos da indústria criativa, influenciando, por vezes, a direção que essas organizações tomam em relação ao seu público-alvo.

Dentro desse contexto, os fãs podem ser caracterizados como consumidores produtores, os quais assumem parte dos trabalhos de divulgação e promoção de serviços que antes eram realizados apenas por empresas profissionais contratados pela organização.

Da simples produção de fan fictions, narrativas textuais criadas pelos membros do grupo, até a caracterização de cosplays, interpretação de personagens e adereços fictícios, o fandom trabalha voluntariamente no processo de enaltecimento e valorização da marca. Esse trabalho é encarado como algo prazeroso e divertido e é nesse ponto que a importância da opinião desse grupo deve ser compreendida e analisada minuciosamente pelos profissionais da indústria criativa. O reconhecimento das ações do fandom e suas manifestações em defesa fiel do produto ou serviço são caracterizados como um potencial de valor financeiro, sendo o trabalho das organizações escutar e entender os seus principais desejos.

Sendo assim, é fácil concluir que dentro do contexto social e econômico, o fandom vai muito além da ideia de agrupamentos informais, sem impacto significativo no mercado criativo. Do contrário, a expressão de seus interesses e a lealdade colocada em um produto da mídia pode tanto impulsionar e fortalecer o mantimento da marca, quanto incentivar o seu fracasso. Dessa forma, torna-se ainda mais essencial que as empresas permaneçam atentas as movimentações desses grupos, analisando e aperfeiçoando suas ações de acordo com as necessidades que o seu público espera satisfazer.

REFERÊNCIAS

CALDAS, Dario. Indústria criativa indica caminhos para os setores mais tradicionais. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/08/1912970-industria-criativa-indica-caminhos-para-os-setores-mais-tradicionais.shtml. Acesso em 09 de Novembro de 2017.

COSTA, Flávia Zimmerle da Nóbrega; LEÃO, André Luiz Maranhão de Souza. Dispositivo de Potterheads: Organização Pautada na Ordem do Cânone. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 4, n. 21, p.500-523, jul. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65552017000400500&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 09 de Novembro de 2017.

MONTEIRO, Camila. Fandom: cultura participativa em busca de um ídolo. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação, São Paulo, v. 1, n. 4, p.1-13, set. 2010. Disponível em: http://www.usp.br/anagrama/Monteiro_Fandom.pdf. Acesso em 09 de Novembro de 2017.

Samuel Moreira